Sou da opinião que preces e lágrimas no cinema funcionam melhor do que na igreja: se você não for atendido, ao menos terá tido mais uma oportunidade de catarse ou de passar raiva; eu pelo menos de tédio não morro.
Com a programação do Oscar aí, hoje desviei para Cannes com a desculpa da última semana em cartaz e fui parar em A Grande Beleza (La Grande Belleza, Paolo Sorrentino, Itália, 2013), que já me havia sido recomendado na ánalise. É impossível não se sentir procurando a mesma coisa que Jep Gambardella, que nunca escreveu seu segundo livro porque na superficialidade da alta sociedade de Roma – “estamos todos à beira do desespero” – ele não encontrava a tal grande beleza, e não há maneira aparente de escrever ou se inspirar sobre o nada e o vazio.
Viver em busca da grande beleza, de algum sentido ou do que estiver por trás das máscaras que cada um traz na cara – as ganas de chacoalhar pelos ombros gente muito dissimulada são genuínas – tudo isso me faz pensar com alguma frequencia no mito de Sísifo. O rapaz levava a enorme pedra montanha acima e chegando ao topo, a pedra rolava, e lá ia ele retomar a pedra. Em looping eterno. Quer dizer.
Mas como está lá no perfil do Pintinho, definitivamente e como mantra motivacional nessa vida, “é preciso imaginar Sísifo feliz”.